sábado, 17 de outubro de 2009

Introdução; Religiosidade popular no Brasil colônia

Autor: Izabella Pereira P. Gomes

A crença e a fé no divino acompanha o homem desde sempre, estudos antropológicos evidenciaram que o homem desde estágios primiciais, já manifestavam algum tipo de religiosidade. O ser humano busca respostas para sua vida em algo que transcende seu conhecimento e a religiosidade varia de cultura para cultura e de indivíduo para indivíduo. Assim, uma mesma religião é vivida e interpretada de maneira diferente entre os vários grupos sociais. No período do Brasil colonial não era diferente, a religião oficial era o catolicismo, entretanto devido a vários fatores esse catolicismo era interpretado e vivido de maneira bem peculiar, isto é, a população colonial vivia um catolicismo híbrido e cheio de características próprias.

Nesse contexto, Qual a repercussão entre as diretrizes estabelecidas pela Igreja Católica, no Concílio de Trento (1554 – 1563), e as práticas religiosas no Brasil colonial? Para responder essa questão é necessário discutir a importância do papel da Igreja Católica na construção da sociedade colonial e entender a relação entre a religião oficial e suas práticas populares nesse período.

Nesse sentido, Riolando Azzi aborda conceitos sobre a dependência humana para com o divino e procura entender como homem colonial se relacionava com o sagrado. Assim, o autor elabora um conceito de “mundo dado”, explicando que esse mundo é o mundo da natureza, que já estava pronto quando o ser humano tomou consciência de sua identidade, ou seja, é o mundo “mágico” e cheio de enigmas[1], onde o homem primitivo se deparou com sua fragilidade e dependência. Dessa maneira o homem colonial tinha uma extrema dependência do divino e um forte imaginário religioso.

A historiadora Maria Clara Machado aponta que a religiosidade popular, do ponto de vista da história cultural, é exteriorizada no cotidiano através de festas, rezas e procissões, sendo que essas práticas religiosas populares nos ajudam a perceber as experiências religiosas concretas na vida dos sujeitos sociais[2]. Nessa linha de raciocínio, as manifestações religiosas tinham um importante papel na sociedade colonial, fazendo com que as festas religiosas fossem um misto de diversão, entretenimento, comunicação social e manifestações de fé e de religiosidade popular.
No Brasil colonial existia uma população pequena, com índios, negros e colonos portugueses, fazendo com que o catolicismo oficial fosse “influenciado” por outras crenças religiosas, formando uma mistura de credos. Dessa forma, como a Igreja Católica percebia as manifestações dessa fé popular e quais as diretrizes que ela estabelecia para obter o controle do povo em um continente tão grande e longínquo?

Segundo Riolando Azzi, “a Igreja é modificada pelas tradições locais que se fundem às tradições religiosas (...) constituem um misto de religião e de cultura local”.[3] Nesse sentido, a sociedade molda a religião oficial e estabelece padrões para o comportamento religioso. Entretanto, é difícil definir exatamente o marco divisório entre o que é religiosidade popular e o que é tradição oficial da Igreja, pois a cultura local influencia diretamente a maneira que cada sociedade percebe e interpreta as diretrizes religiosas. Nessa linha, Pedro Araújo de Oliveira, argumenta que a Igreja Católica “interpreta as manifestações populares como uma religiosidade própria das classes mais pobres” e aponta que “essa religiosidade, rica e vasta, não se opõe ao catolicismo oficial, mas se justapõe”[4].
Atualmente a questão sobre a religiosidade popular esta presente em varias discussões de lideres católicos. Em um encontro do Episcopado Latino-americano, em 2007, eles analisaram a fé popular afirmando que:

A fé do povo, que se manifesta através de práticas populares, deve ser polida e moldada, pois a fé latino-americana demonstra fortes traços de uma cultura popular, fruto de influências autóctones e africanas. Assim, para a Igreja, a fé católica encontrou a rica cultura latino-americana e desse encontro se formou a fé do povo, assim como as manifestações dessa fé popular.[5]

Partindo do pré suposto que o povo brasileiro tem uma cultura própria e um profundo imaginário religioso, tendo como herança o hibridismo do período colonial, a análise do documento do Concílio de Trento facilitará a discussão de como a Instituição Católica interpretava as manifestações de fé que ocorriam no Brasil colonial e quais as diretrizes estabelecidas para lidar com a religiosidade popular no Novo Mundo.



[1] AZZI, Riolando. A Cristandade colonial: mito ou ideologia. Petrópolis, Vozes. 1987 p. 59
[2] MACHADO, Maria Clara T. Pela Fé: a Representação de Tantas Histórias. Estudos de História: Franca/SP, v.7, n.1, p. 51-63, 2000.
[3] Riolando. Elementos pata a história do catolicismo popular. REB. Petrópolis: Vozes, Pág 101
[4] OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro de. O catolicismo: das CEBs à renovação carismática. Brasília. REB, 59 (236), dezembro 1999.
[5] CELAM. Documento de Aparecida: texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Brasília, São Paulo: CNBB, Paulinas, Paulinas, 2007. pág, 249

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZZI, Riolando. A Cristandade colonial: mito ou ideologia. Petrópolis, Vozes. 1987.

AZZI, Riolando. Elementos pata a história do catolicismo popular. REB. Petrópolis: Vozes, [s.d.].

CELAM. Documento de Aparecida: texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Brasília, São Paulo: CNBB, Paulinas, 2007.

OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro de. O catolicismo: das CEBs à renovação carismática. Brasília. REB, 59 (236), dezembro 1999.

4 comentários:

  1. gostaria de saber quais as festas religiosas na colonia que ainda são praticadas na atualidade

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  2. nossa muitoo grande, mas ajuda bastante

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  3. muito boa sua colaboração.

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